quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Um olhar sobre os Estudos Retóricos de Gênero

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Por Germano Xavier


O capítulo 6 do livro Gênero: história, teoria, pesquisa, ensino, que versa sobre os Estudos Retóricos de Gênero (ERG) delineia com precisão conceitual os meandros dos estudos elaborados principalmente pelos autores Charles Bazermam e Carolyn Miller, sendo os dois devidamente analisados e esmiuçados por Anis Bawarshi e Mary Jo Reiff, autores do supracitado livro publicado no Brasil em 2013, traduzido pelo professor Dr. Benedito Gomes Bezerra, docente da Universidade de Pernambuco (UPE).

É justamente no referido capítulo onde ocorrem as distinções referentes ao ideário do gênero compreendido como sendo uma ação social, assim como objetos culturais de base demasiado complexa. Dentre todo o conteúdo abordado nas cerca de 30 páginas do excerto, destacam-se as ideias em ERG de “sistemas de gêneros”, “conjuntos de gêneros”, “apreensão”, “metagêneros”, “sistemas de atividades” e “cronotopos de gêneros”.

Diante de tais lances conceituais, alguns autores pontuam, a partir de Bazerman (1998), sobre a existência de uma relação dialógica entre as formulações do gênero aliadas à formação do conhecimento em si e, também, por parte de sua condição sócio-histórica. Para tais autores, a citar Berkenkotter e Huckin (1993), gêneros são arcabouços estruturais de base retórica e por demais dinâmicos. Assim se postulam, já que podem sofrer variações caso ajam para isso forças acerca de condicionantes e interesses de uso, além de outros mecanismos de influência.

Em ERG, gêneros são também entidades retóricas sensíveis, dinâmicas, que estabilizam práticas e legitimam sentidos. Para esta corrente dos estudos de gênero, o papel e a importância dada ao usuário da língua é fator preponderante, pois é o usuário da língua quem também induz o gênero ao conhecimento e usufruto de mecanismos linguísticos coletivos.

O fundo, o contexto, o conteúdo, o momento (Kairós), os pressupostos, combinados com as devidas e referenciadas oportunidades retóricas, passam a se estabelecer como pontos de alicerce do gênero enquanto matéria de estudo. Assim posto, ao promoverem o fenômeno da integral comunicação, os usuários da língua tornam-se membros de uma dada comunidade linguística. Esta, por sua vez, serviria a uma multidimensionalidade que exerceria uma aproximação do gênero para com os conceitos de processo social.

De tal modo, a sistematização de gêneros liga-se aprioristicamente e basilarmente ao poder do indivíduo no tocante às ações de interação num campo aberto de interferências contextuais. Promove-se daí o brotar de expressões do tipo “ecologia de gêneros”, “conjunto de gêneros”, “repertório de gêneros” e, até, “constelação de gêneros” que, juntos, preconizam uma espécie de união conceitual e de atuação determinantes a grupos parelhos de gênero, possuidores de características e funcionalidades semelhantes.

Amy Devitt, Clay Spinuzi, Aviva Freedman, Graham Smart, Janet Giltrow, Engestrom, Cole e Davi Russel são alguns dos nomes importantes que ajudaram e ajudam a interpretar boa parte das nuances dos estudos centrados em gênero na vertente em ERG. Alguns dos pesquisadores supracitados instauraram análise sobre a relação da cognição e do gênero. Os laços encontrados, mesmo alguns no âmbito da comum abstração, colaboram para a conduta dos gêneros junto às demandas da esfera social.

Objetivos e bem dimensiondos, os gêneros seriam produtos de contundente interação, extremamente ativos, socialmente mediados, estruturalmente conflitantes e fortemente motivados, portanto vivos, coordenados e complexos. Destarte, o front de embate, porventura natural ao conceito de gênero, dar-se-ia devido à possibilidade de diálogo entre frentes de ações inerentes ao todo do complexo da engenharia dos gêneros.


Referência

BAWARSHI, A. S; REIFF, M. J. Estudos retóricos de gênero. In: Gênero, história, teoria, pesquisa e ensino. Tradução: Benedito Gomes Bezerra. São Paulo: Parábola, 2013, p. 103-133.

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