sexta-feira, 4 de julho de 2014

Filosofia, Auschwitz, Educação e Modernidade

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Por Germano Xavier


Para aqueles que adoram “assassinar” ciências, correntes de pensamento, idiomas, ideias e tantas outras coisas, eu tenho uma má notícia. E olha que não sou do tipo que gosta de sair por aí feito um daqueles arautos medievalescos, distribuindo alvíssaras ou lamúrias pelos quatro cantos. É que esse modelo de informação eu tenho prazer em divulgar, transmitir, pois me causa um embaraço dos bons.

Ei-la: A Filosofia, assim como a Poesia e o Latim, não morreu. Pelo contrário, a “ciência da reflexão”, se assim posso chamá-la, está vivíssima e demasiado atualizada. E mais, cada vez mais se sustenta enquanto um dos fundamentos da Educação. Eu já suspeitava disso e, confesso, nunca dei ouvidos às vozes daqueles que preconizavam e preconizam o fim dessas “entidades”. Acredito que são maiores que nossas imaginações ou construções interpretativas. Calma, não estou me referindo ao boom mercadológico de obras como “Quando Nietzsche Chorou” ou “A cura de Schopenhauer”, do escritor e psiquiatra norte-americano Irvin D. Yalom, só para tomar como exemplos. É com base nas palavras do professor de Filosofia da Unicamp, Osvaldo Giacoia Junior, em especial, que pronuncio essa afirmação.

Em entrevista à revista “Filosofia – Ciência & Vida”, o professor enfatiza o vigente uso e a atual interferência do pensamento filosófico nas diversas áreas da sociedade mundial. Além de afirmar a vivacidade da ciência do saber, corrobora que o retorno à filosofia é extremamente positivo, principalmente para o campo educacional. Para o acadêmico, “a matéria nunca deixou de lado a problemática humana; pelo contrário, nasceu dela.” Talvez seja por esse motivo que a ciência de Sócrates e companhia jamais perderá seu valor, por simplesmente tratar-se da humanidade ou daquilo que nos remete a ela.

Giacoia diz que as aparições da filosofia em debates nos variados meios de comunicação ajudaram no retorno triunfante da disciplina, porém defende que a filosofia não pode se tornar mercadoria, não pode ser vulgarizada.

Giacoia cita, como exemplo da atualidade da matéria, as recentes discussões sobre as crises ética e moral da política brasileira, o caos da racionalidade científica e a problemática da significação do termo “sujeito”, assim como todos os engendramentos do meio educacional, colocando a teoria nietzscheana e o Idealismo Kantiano como os alicerces fundamentais para as possíveis sugestões e explicações acerca dessas questões.

Eu diria que a Filosofia despertou, pois esteve num estágio de sono, digamos, preocupante. Feliz do homem, que ganha em conhecimento, que se encontra diante de mais uma porta em direção ao saber, que tem na atuação filosófica o perfeito distanciamento do que é realmente importante e do que é apenas superficialidade.

Durante as semanas de transcurso de nossos estudos, o tema que mais chamou a minha atenção foi trazido pelo texto EDUCAÇÃO APÓS AUSCHWITZ, de Theodor W. Adorno. Um texto que possui um valor inestimável para o nosso entendimento e que nos encaminha a melhoras em nossas práticas educacionais, já que nos faz refletir sobre questões acerca de intolerância e violência em nosso meio, tendo como base uma análise sobre o mais famoso campo de concentração da Alemanha Nazista. Um espelho para que nos olhemos e não repitamos tanta barbaridade. A educação humana agradece.

Sobre o texto de Marilda Aparecida Behrens, acrescento que por volta da década de 70 do século passado, o renomado sociólogo britânico Anthony Giddens criou o que ficaria conhecido por Teoria da Estruturação, esfera do pensamento sociológico que acredita que a Estrutura e o Sujeito se influenciam mutuamente a partir de práticas recorrentes, ou seja, a Estrutura molda o Sujeito e vice-versa. A teoria de Giddens vai de encontro, principalmente, a dois outros paradigmas de pensamento, a citar: o Estruturalismo (estruturas dominam o homem) de Althusser e o Subjetivismo (eleições subjetivas) de Max Weber.

Para Giddens, duas características basais identificam o homem: a sua Capacidade (possibilidade de realizar as coisas de maneiras as mais diversas) e a sua Cognoscibilidade (os sujeitos possuem saber sobre o social, portanto conhecem o que fazem). Estas duas faculdades humanas, juntas, elaboram o que Giddens destaca como sendo a possibilidade de Atuação Social, i.e., de Política.

As transformações da contemporaneidade não indicam para Giddens um rompimento para com a modernidade, mas o seu aprofundamento (uma espécie de fase crítica da modernidade). Sobre isto, Morin (2011, p.23) vai dizer que "a crise da modernidade surgiu a partir do momento em que a problematização, nascida da modernidade e que se voltava para Deus, a natureza, o exterior, se voltou, então, para a própria modernidade".

Neste ínterim, persiste uma espécie de resistência às teorias totalizantes ou globais (referências parciais, sem validade geral - renega a interação de culturas e a harmonização de valores), o que pode ser explicitado em alguns pontos, como por exemplo:

- Fim das metanarrativas (esta nova modernidade é descentralizada, dinâmica e pluralista).

- Multipolaridade (Mundo Pós-Guerra) x Globalização.

- Minorias mais participativas.

- A percepção dos "outros".

- As palavras de ordem são: pluralidade e especificidade.

- Abalo do Eurocentrismo e importância realçada aos países mais periféricos, como o Brasil.

Para Giddens, a modernidade é profundamente dinâmica, flui sempre e gera novas formas culturais e institucionais. Como consequência da mudança, o sociólogo britânico prega o abandono de teóricos clássicos, como Marx, Weber e Durkheim; esboça um fenômeno de dualismo: Segurança x Perigo, Confiança x Risco (onde uma existência segura passaria tranquilamente pela destruição do meio ambiente, pela existência do Totalitarismo e pela industrialização da guerra).

A vida torna-se problemática, os pressupostos são provisórios e os objetivos são questionáveis (tudo o que é sólido se desmancha no ar?). Falta de sentido pessoal (um convite à Prostituição do Ser x Mass Media x Aldeia Global x Cultura de Massa). O corpo agora é mercadológico (moda/publicidade). A possibilidade de produção de auto-identidades (Literatura Pop x Poema-Processo x Concretismo/Neo-Concretismo x Sociedade do Espetáculo) dão o tom de alguns setores, e tudo parece atestar a racionalidade das tendências conflituais.

Tudo parte para a sensação de caos numa modernidade que se liquidifica, tal qual um recorte a la Bauman. Diante de tamanho imbróglio, e parafraseando Paul Valéry, será o homem capaz de dar conta de tudo aquilo que sua própria mente criou?


* Imagem retirada do site Deviantart.

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