sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Grande e a máquina do tempo

Imagem: Google
Por Germano Xavier

Iraquara já foi uma cidade mais romântica e pacata, pelo menos para mim. Talvez eu já tenha sido, também, um sujeito mais romântico e pacato. Decerto que as coisas mudam o tempo todo, que as pessoas não permanecem as mesmas para sempre. Assim caminha a humanidade e este ditado já é bastante velho. Avenidas se alargam, postes são instalados, antenas captam e difundem o invisível, prefeitos prefeituram, obras são construídas, verbas são desviadas, amigos morrem ou somem, crianças crescem e se transformam em adultos, enfim... 

Eu só não sei o motivo, mas algo hoje me fez recordar de mais um capítulo de minha infância vivida entre os paralelepípedos de minha rua, a Tito Luna Freire - mais especificadamente nas proximidades da casa de número 17 -, que também foi a rua de muitos outros meninos e meninas que por aqui perambulavam atrás de uma brincadeira vespertino-noturna ou de um futebol de pés descalços.

Então, vamos aos fatos. O certo é que lá nos meus áureos tempos infantes, mesmo tempo que atravessava a vida de meus colegas de rua-escola, uma ocorrência sempre me tirava do solo que pisava. Era quase sempre no fim da tarde, quando a brincadeira de meter gols em travinhas improvisadas com chinelos sujos estava pegando fogo, sangue de todo mundo quente, e de repente, lá estava ela... a máquina do tempo! Não sei os outros, mas toda vez que a "máquina do tempo iraquarense" cortava a rua Tito Luna Freire eu me lembrava logo do clássico filme DE VOLTA PARA O FUTURO, película bastante exibida pelos canais de televisão nas tardes do início dos anos 90 do século passado.

Não, não precisa se espantar, caro leitor. É tudo muito simples. A "máquina do tempo" a qual me refiro não passava de um VW Fusca todo depenado, sem portas e sem teto, cujo dono era um pintor bastante conhecido nas redondezas àquela época e que, por ter uma estatura avantajada, atendia pelo nome "Grande". Um nome mais do que justo. As más línguas diziam que o fusca de "Grande" não tinha teto porque era o único jeito para que ele pudesse guiá-lo. Sinceridade, ver aquilo de perto dava um misto de susto e de engraçamento.

Pois assim era na Iraquara de minha infância. "Grande" e a sua "máquina do tempo" quase toda tarde apontava na esquina da minha rua e lançava-se entre os chinelos e os meninos jogadores de futebol. E aquilo era quase um evento, quase algo mágico, um negócio muito esquisito de bom. Todos paravam para olhar a travessia do gigante de longas pernas magras e seu possante de motor irrequieto. Eu ficava olhando, plasmado, para todos os detalhes daquela passagem. Fitava tudo e acompanhava o rastro de fumaça que saía do escapamento até o possante sumir nas dobraduras de outras esquinas mais ao longe, já no fim da rua.

Nunca mais senti algo parecido. Nunca mais vi algo semelhante, até porque aquilo havia de ser único. Os tempos são outros, é verdade. Os fuscas mais antigos são quase peças de museu hoje em dia. Meninos jogando bola no meio das ruas também se rarearam. Nossa capacidade de nos espantarmos com as coisas bonitamente simples também parece estar cessando aos poucos. Mas, está tudo bem. Esta é a nova ordem para os dias que vivemos. É aquela velha ladainha. Sorte de quem viveu e viu. No meu caso, vivi, vi e hoje bateu aquela boa e velha lembrança...

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