quinta-feira, 11 de abril de 2024

Então você quer ser escritor?


Por Germano Xavier


Para quem gosta de contos, o livro ENTÃO VOCÊ QUER SER ESCRITOR?", do paranaense Miguel Sanches Neto é um prato a ser devorado com uma fome necessária. 16 narrativas perfazem o miolo. Personagens aparentemente simples, mas que portam angústias e conflitos nada medíocres, todos desenrolados com maestria. A verdade é que nada no livro impressiona muito. Nada há de exagero nem de estapafúrdio. O fantástico e o inominável passam longe de suas linhas. Há uma intensidade linear em todas as estórias, e por isso mesmo o livro ganha créditos nas mãos de quem o lê. É um livro suavemente denso e densamente sutil, mas ardiloso. A literatura contemporânea praticada em sua excelência, talvez. Linguagem corrida, deslizante. Diálogos avessos a qualquer tipo de ostentação linguística de estilo. A comunicação em primeiro lugar. Enfim, um livro de contos, com 16 contos muito bem instalados e cada um com vida própria. Diversidade, neste caso, interessa e muito. ENTÃO VOCÊ QUER SER ESCRITOR? não é nenhum mapa astral para quem quer ou está começando a se enveredar pelos caminhos árduos, traumáticos e prazerosos da literatura, como pode sugerir o título. Porém, se observado sob tal viés, o livro de Miguel Sanches Neto pode surpreender como livro-aula. É difícil dizer, numa primeira leitura, qual a principal qualidade do livro de Sanches. O livro habita um território onde todos podem estar. Os leitores são rapidamente levados a vivenciar tudo, pelo simples fato de que nada ali é irrealizável. Nota-se um esmero nas frases e no discurso das entrelinhas. Um livro de contos sem romantismo, mas com alto teor de nostalgia. Há sempre um momento a ser revisitado, não se sabe se pelo próprio autor ou se pelas personagens. Uma obra embriagada por ela mesma, posto que se sabe dentro de si e existível além: precondição nada para o tornar-se diferenciado. Longe de querer classificar o livro de Sanches utilizando de qualquer artifício, ele, o livro, é digno de leitura. Coisa rara hoje em dia, onde tudo que é escrito parece sair das genitálias dos "escritores", descarregados de muitos elementos básicos e fundamentais para o elaborado exercício da prática da escrita ficcional. Hemingway já dizia: "A maioria dos escritores vivos não existe" - esta citação está destacada no último conto de ENTÃO VOCÊ QUER SER ESCRITOR?, e me serve agora para dizer o fim destas poucas ideias. Miguel Sanches Neto está vivo e existe. Você duvida? Sugiro começar o livro pelo segundo conto, intitulado de Árvores Submersas. Talvez ele só já te prove alguma coisa em caráter de urgência, e aí você pode continuar o nado sem grandes tribulações na consciência sobre o uso do seu tempo.

2 comentários:

Germano Viana Xavier disse...

Crédito da imagem:

"http://b.vimeocdn.com/ts/344/210/344210750_640.jpg"
Google

Urbano Gonçalo de Oliveira disse...

Germano meu amigo, passei para deixar aquele abraço, junto com o desejo de um feliz Natal junto de quem partilhas o coração. Fica bem, até breve.