domingo, 18 de agosto de 2013

Sobre almaços e arestos


Por Germano Xavier

Ontem, noite imensa, de amor matando amor.
Para renascer.

Na movência das maneiras
e das formações argênteas do dia,
como começar pelo início
se as coisas acontecem antes
de acontecer? Como não crer
na morte do deus, se é
mesmo possível? Se a morte de deus
é uma possibilidade, como a da vida...

Eu estou morto.
Morri na madrugada de hoje.
E ainda não sei como reagir
diante da minha morte, que é,
também, uma possibilidade.

Alimária sou eu?
Um compungido curioso de amar
impossível?
Meu destemor é
impossível?

Acabou de acorrer - o meu amor,
que era tão possível - diante do quadro
da noite para um socorro de faltas
e solidões. E querem nos convencer
de que não morremos totalmente
quando o deus morre.

Encostado no tapume, um ser quase andrógino
por detrás do madeirame vem,
morosamente, ao sol, portentoso.

É o deus que malha?
É o deus que, impromptamente, judia
e que se esquece de haurir?

Guardo gotas de codeína para a pavoneação
das efemérides, que sou pirotécnico.
Acostumado às mumunhas, e já sem bons angúrios,
coabito os infernos que armazenei como víveres.

As pessoas, sim,
as pessoas desembocam. Como o deus que existe também.
E a parte que teima fica porque é simplesmente imortal,
inatingível? Essa, engalfinhada em mim,
está porque não me pertence e é assim que o começo se agrava?
Começamos quando a parte que nos falta evidencia-se?
A quem direcionar minhas orações vou
se acaso a ferida recrudescer?

Um comentário:

controvento-desinventora disse...

Não há morte, se há poesia...