domingo, 12 de janeiro de 2014

Recado a Gullar


Por Germano Xavier

vai morrer o poeta, Gullar,
aos 23 anos. ele sabe
que vai
e sabe até onde cairá, pesado,
num feriado,
véspera de alguma coisa.

vai morrer hoje,
que amanhã é longe.
descansou a teima, deu-se.

hoje, assistiremos à morte
de uma criança.

semanas depois, as vassouras de cerdas
naturais, as cortinas improvisadas,
o ventilador branco encostado à esquerda
da cama, as fechaduras, os copos, as toalhas
e os livros arrumados na estante, a máquina,
as borrachas e as lâmpadas soluçarão,
ocas de significados,
diante do susto e da certeza
de não mais ser.

Um comentário:

James Wilker disse...

Genial, meu caro. Belíssimo e tocante, bem gullar!