quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Numa rodoviária, aceso numa noite caída

Por Germano Xavier

“É assim o homem, caro senhor, com duas faces:
não consegue amar sem se amar.”
(Albert Camus)


Perdi-me na aurora da minha juventude,
dia em que senti o que é o amor.
O sentimento silencioso da agonia do mundo.
Nessa hora, senti o peso da minha fraqueza,
o quanto sou patético e insignificante,
o quanto me ignoro e sou.

Viajei na imensidão dos meus vazios,
e caí!

Caí por terra no que chamo ilusão,
desespero... vontade
de ser maior do que realmente.

Caí!
E quão alto era o precipício,
o meu precipício!,
Construído em lacunas de dias,
forjado em noites de vozes não ouvidas.
Criado pela ignorância.

Tudo muito rápido, mas cicatrizante.
Tudo muito fluido, mas áspero,
feito o ferro das grades do meu coração.

Não sei bem a razão para o fato que consumei.
Porém, justifico tudo o que fiz
quando me dou diante do porta-retrato na sala.
Aquilo sobre o pano úmido da mesa,
donde cultivo meus poemas.

Fora em seus arredores o desfecho,
e o que jamais iniciei.
Fora também ali que vi o surgimento dos breus
que agora me percorrem nessa rodoviária,
solitária feito o viajante que vai
ao encontro.

(...)

Como é triste esta passagem de ida.
Parece não ter volta.
Pareço não ter perdido o medo de não chegar
ao destino resoluto, planejado.

O mundo acaba quando se esgotam os arcos verdes
de uma esperança de amor
eterno.

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