sábado, 3 de setembro de 2011

Versos em mãos



 Peça nova de estação, dois olhos e o vapor d’água.

Pés no chão pra sentir que o chão é bom e triste é assistir filme sozinho. Eduardo é filho dos tempos de merenda escolar e dos ruídos da madrugada. Quartinho pequeno, tênis sem plural e mundo enorme. Eduardo tem os olhos bons. Bondade das senhoras que vendem doces e sabem a hora.

Saber a hora é questão de tempo.

Um par de mãos e Eduardo cata a vida que sopra sua melancolia de fim de dia. Mas o dia termina e logo ele traça plano novo. Vive desses planos – fazenda xadrez, subir ou descer. Adora algodão doce e finge não ter fome só pra servir de alimento.

Um santo. Um anjo em tons verdes. Compota de mel.

Se o vento tem nome, deve ter o nome desse personagem de verdade. Se as luzes se apagam, a força concreta que o menino Eduardo possui, acende e faz clarão - como relâmpago que ilumina cidade pequena. Rios correm por ele. Novas estrelas surgem. Deus faz as ordens e sabe que no mundo Eduardo faz sentido.

Porque menino é sentido. Amor também. Velas são.

Eduardo existe em excesso porque não sabe ficar quieto. Embora tímido, seu silêncio ecoa mais que hino em dia de jogo de futebol. Eduardo corre o mundo e não consegue ser ausente. É parte de versos escritos por Drummond que soube andar com as mãos.

Unidas mãos em oração.

Eduardo é verso e o seu inverso é contente.

Eduardo rima tudo e completa sua coleção de cenas enquanto ajusta o sinal de sua televisão. Ele só não acredita que o mundo mudou. Quase sem fé, mas sendo o Eduardo, tem perdão.

Criança que tem história tem sempre flores a seu favor.

Não esquece. Como mulher, ele não esquece. Fruta madura que alguém tenta roubar, mas daquela altura, é verso que permanece vivo. Sem transcrição. Eduardo é obra de outro autor.

Alice.


Para o poeta, jornalista e professor Germano Xavier.
Escreve livro, faz sentido e gosta de palavra difícil.
Verso Rouco.

Alice é Letícia Palmeira, Virgínia Borges e mãe do Pedro.

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