quarta-feira, 5 de junho de 2013

Godot, na esquina, um eu


Por Germano Xavier

o instante pisa o meu corpo, pisa.
do meu vulto, espero Godot chegar
em sua liteira de nuncas com assentos de seda carmim.
minha sombra devolve minhas formas de penumbra.
sou apenas o resto de dois homens
que não são mais e são
sentados e sujos, e que mastigam
a peçonha dos dias.
revolvo-me, sufocado pela corda
dos meus próprios e débeis braços.
corre um veneno vermelho, minha
capa de chuva interna.
meus olhos, diante da lua interna de mim,
são lagoas azuis, secazuis.
espero Godot chegar, sublime,
atrás dos gelos. enquanto isso,
o instante pisa o meu corpo, pisa.

Um comentário:

Cris Campos disse...

Talvez não seja tão impossível, afinal a colheita se dá onde e quando menos esperamos. Gr. Bj.!