segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Deixo a ti seus víveres


Por Germano Xavier

Para Marlene Fernandez, in memoriam.


Desolado um choro ruma por tudo
– toda uma paixão desmorona no leito,
ou corre de casa para se molhar na chuva.
A menina desamparada grita aflita.
(Otelo não quer atender se a dor for pouca.)
Que a vida é bastante demais quando acaba sem um fim.
Punhal na mão, o frio, a solidão, ela vai aparecer
naqueles olhos dormidos de um dia futuro.

- Filha, não deixa cair por terra a presença do belo,
corre e se esconde do que carrega a sombra.
Observa no outro o caminho da eternidade,
ruge contra o astro negro sua força improvável.

Luz mortuária, sois do fel do nascer na morte,
pois que vamos sem destino nem direção nem nada além
do nada... eu vou tentar fazer lisonjas e volver romarias
- precisei sair cedo porque a Dona é angelical.

Torna sacrário o estranho missal onde me assomo,
donde sumo, faz alegre o estridor de alaridos das trompas finais.
Enluta não a dor, mas protege o imponderável sepulto que somos.
Ensombra o que da vida não levamos, acerta a placidez que horroriza
e acende a chama no feral círculo onde pisamos sem estar vagando.

Eis o mistério, filha: os nossos votos mudos de amor.
Sonda-os.

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