domingo, 17 de março de 2013

Outro eu


Por Germano Xavier

Meu nome, não importa. Ele é o mínimo de mim. Na verdade, não tenho nome. Jamais possuí um. Não sei se homens deviam possuir nomes. É um fator muito reducionista, não somos só isso, apenas um nome. Não sei se somos mais que isso, mas não somente. Hoje estou mais tranquilo. A noite passada foi muito difícil. Não sei para onde foram os ratos, mas receio que eles possam voltar a qualquer momento. Tenho medo de incertezas e nunca gostei de confiar no que vejo. Resumindo, sou um sujeito medroso. Prudente, talvez. Precavido. Ela disse que eu estava mais homem hoje na hora do almoço. Que eu parecia mais homem. Na hora, sorri. Foi com uma mistura de espanto e orgulho e estridor que absorvi aquelas palavras. Qual o homem que não se sentiria mais ditoso ao se perceber mais homem ou mais másculo ou mais macho, como ela disse? Eu devia parecer menos infantil, menos uma criança. Todavia, mesmo nos adultos os cabelos teimam em cair infantis. É aquela coisa de eternidade, deve ser isso. Se já fomos um dia, seremos para todo o sempre. Se participamos de uma guerra e sangramos e fomos sangrados com as marcas da discórdia, seremos para o todo este igual sujeito. É o preço que pagamos por sermos seres eternos, apesar de mortais - o que é mesmo a morte senão o início da glória e da perpetuidade? Na verdade, não sei se gostei de ouvir aquilo. Então nunca me apareci como homem para ela? Nunca me fui? Era a minha melhor amiga e tinha certeza que tudo que ela dissesse seria a mais pura verdade. Ela só sabia falar com o coração. Era realmente uma pessoa muito especial. Uma jovem, com os seus cabelos maviosos e esvoaçantes, magra e branca como um poema. Um sorriso único impregnava-lhe a face de mulher e também de menina. Naquele dia, e para ela, eu não era mais o menino que ela havia se acostumado a ver, mas um homem. Um verdadeiro homem. E não sei até que ponto isso era ser bom ou melhor.

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