sexta-feira, 8 de julho de 2011

Fotojornalista: mediador de mundos


Por Germano Xavier

Ele chega assim, como quem não quer nada, estica a objetiva, recolhe, regula o zoom, agacha, levanta, corre, esconde, aparece, esconde novamente, aparece de novo, busca um novo ângulo, um ângulo melhor, sempre, fica na pontinha dos pés ou por baixo das calças de uma outra pessoa e, quando você menos espera, escuta o barulhinho clássico de um "click". Lá está o registro do dia, do fato, do acontecimento, da celeuma, da bagunça, da briga, do evento, do homem, do mundo.

A fragmentação de uma dada realidade está nas lentes e no gatilho do profissional de fotojornalismo, assim como está nas mãos do repórter, do editor, entre tantas outras funções do meio comunicacional. O fotojornalista funciona como um canal de recebimento e transmissão de mensagens. Agente de construção de imagens e impressões, o fotojornalista é autor e responsável pela cadeia polissêmica que sua produção pode acarretar. Eis o perigo, mais um deles, do ofício-navalha que é o de comunicar.

Janela da percepção, porta da observação. O fotojornalista vê-se numa corda bamba entre a glória e a desgraça. Carrega no corpo a possibilidade do herói, do mártir, assim como do destruidor, do medíocre homem sem sentimentos, máquina. Muito romantizada nos atuais dias, a mitologia da profissão parece nublar a dura realidade que a cerca. Realidade-navalha, faca de dois gumes, sem dia nem hora para fazer sangrar ou estancar feridas.

Caminha ao lado deste trabalhador a angústia e a pressão por uma perspectiva ou por um panorama relevante, o sufoco pelo "ver total", pelo ampliar mundos. Se assim não o consegue, o dia é incerto e a cabeça ferve de fracasso temporário. É ele, mestre da fotografia, um dos incumbidos da dor, do sensacionalismo, do preconceito, da polêmica, do desagrado, da moral, do deboche, da loa. O intruso querido e o invasor detestado. Um mero mortal capaz de chocar um planeta inteiro através de um simples apertar maquínico e mecânico. O homem-criança que pula cerca, que vence muros, que brinca de esconde-esconde, que chora, que sorri, que transpira, que sobe em árvore e desce dela, que foge, que fura, que marca, nódoa na alma que se duplica, que cicatriza, que traumatiza. Ou o contrário.

A fotografia de imprensa deve ser encarada com um punhado de apreço e atenção. O cuidado com o seu manejo pode significar tanto uma catástrofe quanto a nascença de dias melhores. O que deve sempre existir, sem nada pedir ou temer, é a idéia de representação fidedigna do vetor analisado e, por conseguinte, fotografado, no justo desígnio de pôr a batata quente, isso no bom sentido, nos olhos e nas mãos do leitor, capacitando-o a fomentar um posicionamento próprio, sem desvios ou influências.

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