terça-feira, 14 de agosto de 2012

A educação e o disco de Newton


 Por Germano Xavier

Se você girar um disco de Newton, o que acontece? Quando você termina de fazer esta experiência, você percebe que o disco pintado com aquelas diversas cores apresenta apenas a cor branca quando posto em rodopio na frente de nossos olhos. Eu diria que a educação é isso: um disco de Newton posto em rodopio ininterrupto. As cores são os professores, os alunos, a escola enquanto estrutura física, os métodos, as atividades que movimentam caminhos, as avaliações, e tantas outras veredas que compõem este enorme quadro social, hoje considerado um desafio de primeira grandeza para muitos e muitos países – em alguns nem tão relevante assim.

Entra ano e sai ano, sai governo e entra governo, lá está a escola, fincada nas terras desses gerais mundanos, mundiais, viva ou morta, mas lá está ela, impávida e colossal. Quando muda, muda, mudamos. Quando não muda, permanece igual, igualamo-nos. Nessa exata ordem... Eis a razão de tantos problemas e dificuldades. E questionamentos teimam em existir porque são naturalmente teimosos e recorrentes, e nós, educadores, por vezes nos fingimos de mortos e deixamos a carreata educacional passar sem grandes alterações na paisagem.

Nestes meus 26 anos de vida e quase oito anos de experiência em sala de aula, venho pondo anotações minhas em voga e me esforçando em pensar neste meu caminho de educador, muito das vezes trilhado aos trancos e barrancos. Pelas escolas por onde passei, seja como estagiário ou como professor efetivo, pude perceber semelhanças em muitas das ações em que nós, colegas de profissão e de peleja, prontificamo-nos em realizar. E como é de praxe nesses nossos atuais modelos de visão, o que acaba marcando mais é sempre o lado negativo dos acontecimentos.

Foi comum a percepção de que maus educadores, se é que se faz plausível tal designação, estavam muito próximos de alguns parcos, porém bons profissionais. Maus educadores, isso mesmo, aqueles homens e mulheres que, por falta de alguma instrução maior ou alguma forma de sensibilidade, fazem com que crianças e adolescentes sofram ensinamentos, ao invés de proporcionar a eles o engajamento necessário em prol de seus próprios aprendizados, a amostragem dos melhores caminhos a serem percorridos com suas respectivas forças particulares.

Não entendem, estes, que o mais importante são as aberturas, ou melhor, fazer-se abrir, o ensinamento da vida propriamente dita. Não o que se diz de forma metódica, mas o que sai do coração, aquilo que realmente pode alterar o pulsar de uma outra alma, na maioria das vezes ainda tão ingênua. A escola não é outra coisa senão um lugar para o desenvolvimento da vida, de vidas, esteja ela em que instância estiver. Não se cria nela uma legião de cobaias, uma gangue de pessoas maquináveis, uma corja de robôs imprestáveis. Estamos lidando com gente como a gente, que sofre, que chora, que ri, que tem tristezas e, acima de tudo, que possuem esperanças. Escola tem de ser vista mais como casa, lar, abrigo. Até porque ninguém está apto a ensinar algo para alguém. Somos, nós educadores, apenas ferramentas para abrir picadas quando o matagal está alto, cheio, e quando não conseguimos enxergar o fim da estrada.

Todo mundo está cansado de saber que é a criança que faz o homem, e não o homem que faz o homem. Por isso essa urgência tão grande com relação a uma prática de educação voltada para o interior desde as séries iniciais, essa precisão gigantesca de se ir até a raiz da criança de todo mundo, de se abaixar até ela e de dizer: “Olha, estou aqui para caminhar ao teu lado, aconteça o que acontecer!”, isso de tocar o que ainda é ingênuo em cada um do outro que também nos é.

Não, não é utopia o que estou reclamando aqui, com estas meras palavras escritas e apaixonadas. Nem romantismo, muito menos coisa do outro mundo! Estou falando de educação, gente, da ação magnânima de educar. Este mecanismo de que dispomos para incitar a perguntação, a reflexão, e o melhor de tudo, de fazer com que percebamos o quanto não sabemos e o quanto podemos saber se existir ao menos a vontade e o esforço.

Estamos todos imiscuídos nas cores de um disco de Newton dado a rodopios. Faz-se necessário – na verdade, já passou da hora – um movimento pela educação que antes seja uma demonstração de amor ao próximo, de respeito e consideração ao menos favorecido, e que mudanças aconteçam antes em nosso modo de agir e pensar nossas atitudes em campo escolar para depois atingir o objeto último. Eu falo de vontade, de coragem para investir no potencial do outro, refiro-me ao orgulho de ser um educador, de pertencer ao universo do saber totalizante...

A educação anda girando, girando... Vamos, em giro, colorir o mundo de quem realmente precisa. Somos os porta-vozes das aberturas que não se fecham, possuímos o poder das transmissões formativas, vamos bulir com o ego dessa gente que também depende de nós, curar o tanto que pudermos o mal dessa desigualdade alarmante que tanto assola o mundo. Vamos, sem queimar etapas, vamos! Vamos, que o custo de tudo isso é apenas a dedicação, educador, apenas a nossa dedicação!

2 comentários:

Germano Viana Xavier disse...

Crédito da imagem:

"Escola
by ~richguard"
Deviantart

Anônimo disse...

OI
Sou da Chapada também ( mais precisamente de Mulungu do Morro) e fiquei encantada com seus textos. Percebe-se que escreve com a alma!
Parabéns pelo blog!

Seu texto expressa de maneira clara e precisa as dificuldades enfrentadas pela educação brasileira. Nós educadores dos quatro cantos do país enfrentamos a cada ano e durante todo o ano adversidades que impedem a efetivação de uma educação de qualidade.
Quando se trata de educação é preciso e possível sonhar.


Irei te seguir
Voltarei aqui mais vezes!