quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Farsa


Por Germano Xavier

XVII

É inadmissível ter de aceitar toda esta farsa. Talvez, tudo isto que está acontecendo devesse virar uma peça teatral. Seria uma daquelas tragédias inenarráveis, com um final que deixa a todos surpresos. O pior é que toda esta desgraça está aí, completamente visível, apalpável. A cada dia que passa surge um novo símbolo, uma nova figura, um novo mito tentando explicar o inexplicável. E esta civilização... e esta prisão, estas grades, estas cadeias... fazer o que com tudo isso? Fazer o quê, se são as cargas extras da vida, carregadas em nossos lombos, em nossas costas cansadas, no eterno desígnio de nos fortificar, de nos tornar verdadeiramente homens? Mas é certo isso? Até quando teremos de viver como animais de carga, e desempenhar trabalhos braçais, cabíveis somente a um animal de grande porte? Sofrimento, tanto. É por isso que sempre me quero na companhia dos meus "redondinhos", seres amados, adorados. Ó, quanto sal em mim?! Estou imundo, na podridão deste mundo caótico, sem perspectivas, sem soluções?! Onde a nossa vontade nata de conquista e vitória? Queremos mesmo soluções? Onde aquele desempenho eloquente que mostrava-se, subitamente, no quintal de nossas casas ou nos bastidores de algum tempo? Quanto mais nos sacrificamos, parece que da vida nos tornamos mais "empregados", subservientes. Mas, fazer o que com tudo isso? Fazer o quê? Primeiro passo: escute o vento que sopra na noite? Segundo passo: torne-se leve, e deixe o vento te levar? Terceiro passo: corte os excessos? Quarto passo: entregue-se ao jogo da vida, sem jamais deixar de lutar e desejar vitórias? Até parece que estou escrevendo um livro de auto-ajuda, mas a bem da verdade é que estou parecendo ser frágil, desconcertado e inseguro. Todavia, tenho de dizer que se seguirmos esta cartilha, veremos que nossas cosmovisões serão menos dicotômicas e, portanto, a probabilidade de ocorrer alguma vitória, seja total ou de modo parcial, é muito maior. Enquanto isso, tomarei minha puçanga das "três". Todo sofrimento tem cura, meus amigos. Por isso, bebam de seus pseudosumos, e nunca deixem de viver!

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Olhos de Daniela


Por Germano Xavier,
para a menina Daniela Gama

este poema é úmido
porque regado da salina água
dos teus olhos de Netuno.
úmido
porque é todo um mar labial
naufragado no céu invertido
que são seus íris – arco-íris.
este poema é úmido
porque traçado no póro de tua pele,
perto, cor, sabor, hora,
agora.
este poema úmido cabe no branco
dos teus olhos-alma, cabe
fácil, dulcífico, maior.
umidade na idade do tempo
que amarra uma vontade insana
de no mel’oceano deles
desaguar...

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

A cabeça de Nastércio



Por Germano Xavier


E foi então que o Nastércio percebeu que tinha uma cabeça grudada ao pescoço. E foi depois de tal percepção que ele viu que cabeças servem para suportar a gelatina do cérebro, e que cérebro é lugar de mente. E foi assim que o Nastércio soube que mente não é lugar de mentira, mas de pensamento. "Mas, como fazer funcionar algo que não funciona?", pensava. A mente de Nastércio não funcionava porque ele passou a vida toda pensando que em cima do pescoço o homem tinha mesmo era uma agricultura de cabelos. E ele estava certo: cabelos não servem para nadica de nada. Aí o Nastércio resolveu pegar a enxada e capinar a monocultura de sua cabeça. Nastércio era monocultural, só sabia saber, mas não sabia que sabia saber. E saber saber não quer dizer que se sabe alguma coisa. Por isso, o arejamento do campo capilar foi a melhor coisa que ele podia ter feito. Tirou, com a mão mesmo, todas as ervas daninhas de sua mente: primeiro a boina-máscara, depois eliminou os piolhos-dos-olhos e ademais, cortou tudo com tesoura de cortar e tacou fertilizante de fertilizar. Adubo novo de traseiro de vaca. E foi dito e feito. Não demorou muito para que fosse possível ver brotar do roçado da cabeça de Nastércio uma verdade atrás da outra. Porque, você sabe, depois da merda endurecida, só mesmo jogando muita água naquilo que é muda.


* Imagem: Google.

domingo, 18 de outubro de 2009

Sobre as quatro estações do jornal O EQUADOR DAS COISAS


Pela caminhada até aqui, pelos moinhos vencidos, por nós todos, pela literatura, pela arte, por você, Carolina Piva! Um presente meu e da Molotov Produções, na pessoa maravilhosa de Lisa Alves. Obrigado por existir-junto, por fazer parte-e-além e um infindo-desejo de vida longa ao nosso Jornal de Literatura e Arte O EQUADOR DAS COISAS!

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Poemas de Germano Xavier em Francês (Parte XXX)

*
Por Germano Xavier

"tradução livre"


Quinta-feira, 27 de Agosto de 2015
As coisas são mais que seus nomes



Les choses valent plus que leurs noms

à quoi ça sert de conventionner
l’opposé de ce qu’on dit,
un sursaut dans le silence,
un appui derrière les murs
ou dans l’eau mobile du temps.

car l’indice donne le sens qui bascule,
et le symbole annonce la maladie vaine de la douleur.
et si souvent dans la vie l’attente nous annule
l’imprécis devient plus clair arrosé comme une fleur.


* Imagem: http://www.deviantart.com/art/Out-of-Happy-Places-538886868

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Poemas de Germano Xavier em Francês (Parte XXVIII)

*
Por Germano Xavier

"tradução livre"


Sábado, 01 de Agosto de 2015.
A douta espera


"Je ne suis pas surpris de me réveiller au milieu des eaux."
(Adolfo Bioy Casares)

La docte attente

revolté, l’amour, ce même amour
qui m’attriste et qui sort de l’eau
froide comme l’échec, ou en guerre d’amour
il est vainqueur, en jetant sur mon cœur la douleur funeste,
comme une protestation contre l’absurde,
ce même amour de la paix solitaire de nos corps,
insignes pas de l’ombre qui marche.

revolté, le néant de l’instant présent. aux feux de la rampe, l’amour qui vit
loin des manques réels et centenaires de mon âme.
ce même amour qui est parti avec le courant
en se pliant dans les fantaisies fautives.

et ce détail en nous: l’amour qui enfante,
imprécis comme l’hyperbole parfaite,
juste comme le début des rêves.

l’amour.

comme si à minuit nous désirions postuler
les vains buts des négations
ou les fantasmes de marbre du temps,
nous nous déplacerions alors sur des parallèles diffuses
accoudés aux bords maritimes des prisons.

vers la fin, la vie nous apprends le goût de la peste :
nous courrons vers l’entrée, c’est la docte attente.
l’amour, comme la mer, désobéit aux couchers-de-soleil.


* Imagem: http://www.deviantart.com/art/Echo-City-566193486

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Ensinagem: um processo de amor

*
Por Germano Xavier

O processo de Ensinagem parte do pressuposto de que é, ele, antes de qualquer conceituação, um exercício de compartilhamento, de convívio e de diálogo entre as partes que compõem o jogo educativo, a citar primordialmente o professor, objeto de estudo e o aluno. Neste entrelaçado, o conhecimento se acerca de buscas em torno de mobilizações, construções e elaborações sintéticas.

Quanto ao que concerne ao tópico “mobilização para o conhecimento”, como assim se referiu Vasconcellos (1995), cabe ao professor procurar formas de atrair o seu aluno até a mais próxima face do saber que porventura esteja em destaque. Para que isso ocorra, há de existir vontade e interesse de ambos os lados. A promoção da relação do aluno para com o objeto de estudo é o desafio maior desta etapa.

No que tange à “construção do conhecimento”, a prática analítica do aluno em relação ao objeto de estudo faz-se aqui de alvo máximo. Aqui, o aluno, com apoio total de seu orientador, debruça-se no corpo do saber e alicerça seus tijolos de síntese e de visões de futuro. É o momento do aluno ativo e do professor operante. Para tal relação acontecer de forma harmônica, cumpre observar os passos da Significação, da Problematização, da Práxis, da Criticidade, da Continuidade, da Historicidade e da Totalidade, cada qual com suas prerrogativas e dinâmicas.

Sobre a “elaboração da síntese do conhecimento”, último tópico que compõe o processo de Ensinagem de acordo com Pimenta (2002), o aluno caminha ao lado do professor e já esboça o que podemos chamar de consolidação de conceitos, sabedor de que tais conceitos devem ser vistos como entidades mutáveis, pelo simples fato de que nunca deixamos de aprender coisas novas e que, por conseguinte, a qualquer momento podemos adentrar por novas mutações de base ideária.

O processo de Ensinagem é uma busca mútua, professor e aluno na direção de um só objetivo, as duas figuras marcando territórios e superando obstáculos que podem, com certa facilidade, impedir o livre curso das formações de saber. Ensinagem, pois, é compromisso com o que vai além do necessário dentro dos universos vários do conhecimento. Destarte, Ensinagem é também uma espécie de amor, ou de amar, na acepção mais justa e bonita possível. 


* Imagem retirada do site Deviantart.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Ainda sobre teus seios

*
Por Germano Xavier

se a gota escorre desde a nuca
tornando o cabelo uma seta negra
colada aos nus do corpo

se se dobra em volta e num retorno
pela foz do pescoço faz divisa
com o frágil ombro

vai dar a regar os rotundos balões
da mulher em flor
a água

a gota dela arrecadará a velocidade
suficiente para parar
no agudo botão em ponta
no meio do círculo matricial
cor de menina

a gota faz-se de boca-lábios
permanece altiva e em doce contato
como em invertida levitação


* Imagem retirada do site Deviantart.

sábado, 3 de outubro de 2009

Imaginaturas de reinícios

*
Por Germano Xavier

sobre a lembrança pousados estão
meus olhos

você triste não é você
você mesmo colorida mas triste
não é você aquela menina antiga de vida
de vida sem vendas no olhar
menina sem laços de fita não
não é você

Cine Dunas, faróis espocados na artificialidade
luminosa, o firmamento do lado esquerdo
do sonho de ser o próprio filme,
um romance com ares mexicanos,
a lã cor de vinho que te cobre
os brancos seios de onde bebo

o mar em fúria
chão em sépia
teu sorriso se abre bem nos olhos
lá onde me cometo

vi quando você me viu
naquela rua de nos engaiolar
em reformadas asas

você triste nunca mais
você mesmo sem dia bom mas triste
nunca mais aquela menina rasteira
árvore sem copa

você soltou teus cabelos
permitiu que brilhassem como feixes prismáticos
caminhos de me dar no escuro do teu silêncio
o mamilo os grandes lábios generosos os dedos
sob a renda em comunhão

os bens de amar


* Imagem retirada do site Deviantart.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

A banda-voou


Por Germano Xavier


Ela sai de mansinho,
cai no escurinho,
faz um inferninho,
ela é banda-voou!

Retoca o batom,
não perde o tom,
aumenta o som
que ela é banda-voou!

Do salto não desce,
de esquecimento padece,
vai ver não merece
- Ai, ela é banda-voou!

Vai sempre faceira
descendo a ladeira,
sem eira nem beira
- Meu filho, ela é banda-voou!

Cativa o casado,
desata o noivado,
não tem namorado
- Mas que banda-voou!

Não usa calcinha,
não é sua nem minha,
pra todos caminha
- Como é banda-voou!

Finge amor de propósito,
cobra ao carente o depósito,
sorri em caso de óbito,
- Bom Deus, ela é banda-voou!

terça-feira, 7 de julho de 2009

Itaitu olhada de dentro


Por Germano Xavier,
para Verusa Pinho, colega de Jornalismo.



I


Oeste, lado norte,
sul para quem vai,
sul para quem vem.
Itaitu Chapada Norte
Itaitu sem norte,
ouro que brotou do chão.

Lugar como o meu,
Pote de Mel que cresceu,
minha Iraquara perdida
em minha infância distante.
Ruazinhas de paralelepípedos,
casinhas de janelas grandes,
mundinho sem avenidas, sem
viadutos, sem qualquer saída,
centro onde o vento se perdeu.

Itaitu de hora lerda,
do vendedor de sonho em abril,
da roceira mulher morena,
da criançada de alma febril.
Itaitu que é sem fim
no fim que a vida deu, que é
o de espantar tristeza
e alegrar o homem em escarcéu.

Quem vai quer ficar,
quem já ficou não foge mais,
quem é de lá vira água de cachoeira,
ouro antigo, que bom deus!
Itaitu e Iraquara,
eternos ranchinhos sem breu.
Será vida besta, meu deus?


II

água escorrida
do céu
choro de deus
que não cessa
lágrima limpa
chuva repartida
de vida
de vida
de vida


III
batiza eu deus de quem quer lugar santo pra quem duvida alguma coisa ainda vai acontecer é o que dizem as velhinhas beatas que vão e vem alguma coisa ainda vai acontecer e vai haver sim o dia do juízo ou do júbilo final por que nestas casinhas com cruzes no teto no telhado e praça no derredor quase sempre a semente da cidadezinha que brota flor de margarida branca se esconde um mistério secular umas mulheres vestidas com vestidos e homens que estudaram latim língua morta corpo morto? vontade morta? batiza eu não deus que sou ateu que sou atoa que sou poeta que sou da vida sem grilhões sem lestrigões batiza eu não deus que eu não vou pro céu que eu quero é meu corcel pra galopar certezas melhores por que nestes lugarzinhos esquecidos há gente que reza e há gente que ora e a diferença na fé também da terra perdida nasce

terça-feira, 23 de junho de 2009

Balthazár


Por Germano Xavier

I

só já velho,
sem quase felicidade
no coração,
é que fizeram uma festa para ele.
festa de aniversário.
foi o dia de Balthazár morrer.


II

Balthazár foi prendendo
os animais, cada um numa cela.
após todas as prisões, olhou
para os lados e se sentiu preso
numa solidão.


* Imagem: Deviantart.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Fortuna crítica ( II )

*

O poeta das horas


Nasceu em um zepelim, grande e colorido no céu que vem dos tempos bons e da caridade de quem olha sempre ao redor. Nasceu do amor entre a Madrugada e o Cedo Despertar das Janelas. Nasceu belo e tempestuoso, agudo e aflito. Correndo desde menino, procurando arestas nos livros e beijando escritoras de mãos tão rosadas e contemplativas. Nasceu por milagre e gerou o mundo que não cabe em si. Alimenta os sonhos e as margaridas azuis - sempre azuis - do jardim que não chora e não traz má recordação. É grande o pensar do Poeta das Horas. Cria velozes verdades em vias respiratórias dos peixes das águas que transbordam em mim. E transbordo em seus textos, epitáfios e amores remotos. Desde o tempo dos girassóis e das descobertas de luas, escreve e cria em mim, nuvens e coloridos vestidos de versos e metáforas. Pertence ao mundo - Criou o mundo e pouco satisfeito, se tornou perfeito. O livro que Kerouac esqueceu de criar. O Poeta das Horas corteja palavras e simples, tem os olhos dos lagos que repousam ao lado de seu lar. Conheço o Poeta e já conheço o mundo contrário às imperfeições. O Poeta das Horas chora sorrindo e dorme à sombra dos séculos. Poeta sempre eterno.

Por Alice.


Alice é Letícia Palmeira, fantástica escritora e poeta. Digo isso como leitor voraz que sou e com o que de crítica tenho. Hoje, minha escritora de cabeceira. Diz ela que escreveu esse texto para mim ou pensando em mim, não sei bem ao certo... O importante é que ele serve como uma homenagem a todos os poetas que limam palavras no desejo de mundos melhores...


* Imagem:Deviantart.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Cosmológico


Por Germano Xavier


Elimino-me no ar em frangalhos,
parado e mudo,
e me sinto o mais vazio móvel a coser
a paisagem opaca de um escuro cômodo.

De onde a ilusão
brotar, num
imortal silêncio, me pendurarei
disposto
aos vergões da vida.

Penso até que quero me ferir.
Penso até que me morro,
horrendo e honroso, da mais bela morte
que me quis.


* Imagem: Google.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Fortuna crítica ( I )

*

Ao longo desses quatro ou quase cinco anos de experiência com o blog, alguns colegas de escrita teceram palavras em minha direção, as quais foram guardadas com muito esmero. Para efeito de recomposição do arquivo deste espaço, reapresento aqui algumas destas homenagens.


Isto não é um sonho

caía uma chuva magrela que trazia junto consigo um frio megero. Gus acordou, verificou as horas, ainda eram 02:50 da madrugada. A chuva intensificou-se, por sua vez o rapaz ficou de baixo das cobertas, esperando o sono que não vinha. Não havendo o que fazer, sonambulamente Gus desceu até sua cozinha para beber água e procurar o sono perdido. a sala da casa estava iluminada pelos postes elétricos. Parado na frente de um grande espelho na sala, o moço examinava seus grandes olhos verde-escuros que estavam com uma porção de vermelhidão junto de si, aquilo parecia sono. O telefone tocou tão baixo que mais parecia que iria contar um segredo. Mesmo recriminando em pensamento o facto de alguém ligar a esse horário, atendeu, poderia ser uma emergência. - Alô! Aqui é Lady Cordelia Fitzjames. Que bom que atendeu senhor Rexvia, precisamos conversar pessoalmente com certa urgência. - Alô! Quem? Qual o assunto? - Sr. Rexvia, desculpe a inconveniência do horário mas, acredite, precisamos de sua ajuda. Quero um encontro com o senhor, o mais rápido possível. Gus espreguiçou-se no sofá, ponderou um momento, a mulher, seja lá quem fosse, estava realmente falando sério. - Sim, podemos marcar. Para quando, então? - Imediatamente. Atenda a porta. um relâmpago caiu bem perto da casa de Gus, acordando-o, estava coberto de livros e com uma dor nas costas de matar, adormecera mais uma vez enquanto lia, e mais uma vez aquele sonho. Estava chovendo, olhou o relógio, 02:51. Um bater de leve na porta o deixou apreensivo, quase irritado, quem seria? Quem esquecera as chaves? à sua porta três distintas figuras, uma mulher de uns quarenta anos vestida elegantemente com trajes vitorianos, de braços dados com ela, um homem de aparência mediterrânea na mesma faixa etária vestindo um terno moderno da alta-costura italiana, e logo atrás uma moça negra careca de grandes olhos azuis, trajando apenas um vestido branco de algodão. Estavam secos a despeito da chuva que caia lá fora. Gus conclui que ainda sonhava e pediu para que entrassem, aconchegou-se no sofá e começou a devanear enquanto a mulher mais velha falava, era a mesma do telefone. Tudo era tão surreal, que o moço não se deu o trabalho de entender, afinal de contas era um sonho. - Boa noite, senhor Rexvia! - falou o homem do grupo, sua voz lembrava a de um professor gentil e exigente, Gus saiu do mundo dos sonhos e prestou atenção nele. - Eu sou Abraim Solomom Khan, a senhora ao meu lado é minha esposa, Lady Cordelia Fitzjames, Duquesa de Fireshire, e a jovem vestida com nuvens, é Miriviel, princesa de um dos reinos da Arcádia, Miriviel das fadas. E, senhor... isto não é um sonho! - A voz de Abraim ressoava pelo cômodo como raios e trovões ressoam nos céus. Se fez um silêncio enquanto Gus Rexvia assimilava o que lhe aconteceu. - O que vocês querem de mim? - Como Lady Fitzjames lhe disse, ... - a voz de Miriviel das fadas soava como centenas de vozes falando ao mesmo tempo. Era doce, suave e sufocador ouvir tal voz. - ... a bilblioteca que guarda todo o conhecimento foi saqueada, e apenas o novo bibliotecário pode entrar lá agora, já que o antigo foi transformado em pedra junto de seus ajudantes. O senhor tem a honra de ser o novo bibliotecário, entre todos os mortais, magos e seres encantados, fostes o escolhido. - Eu? Por que vocês me escolheram? Cordelia riu um pouco antes de explicar: - Não fomos nós que o escolhemos, foram as crianças. Imagine que iríamos deixar tal conhecimento nas mãos de alguém que não confiássemos, lá tem tudo o que já foi escrito, desde de receita de bolo de arco-íris ao rascunho original da Odisseia, entre muitos segredos do universo. Então, perguntamos às sete crianças mais inteligentes, às sete crianças mais puras e às mais sábias que existem, e unanimamente o seu nome foi o escolhido. Inteligência, Pureza e Sabedoria o escolheram. Precisamos de sua ajuda para saber e reaver o que foi usurpado. nada disse Gus, apenas os serviu com chá e bolo, estava frio, ninguém o pressionou para decidir-se. Abraim lavou o que sujaram, pediu água e agradeceu a hospitalidade: - Cordelia, Miriviel, é chegada a hora. Jovem senhor Rexvia, foste o escolhido para uma missão nobre e árdua, mas apenas vossa senhoria pode decidir aceitar a tarefa, ninguém mais. - Abraim acendeu o cachimbo e foi andando até a sala, parou no espelho, falou umas palavras estranhas, e fagulhas elétricas saíram de seus dedos, as senhoras passaram, antes de entrar ele fez uma reverência para Gus. - Se aceitares o cargo nos siga. - e assim entrou no espelho.

Continua...

"Gus é uma personagem inspirada no mestre Germano Xavier, pois os amigos também podem ser inspirações. Sinceramente espero que goste do conto e da personagem". Texto escrito por D., do blog Vento Longínquo.




* Imagem: Deviantart.

sexta-feira, 27 de março de 2009

O filho



Por Germano Xavier



Ela disse que filho de poeta com um bicho parecido
dá para as coisas do sem-nome.


* Imagem: Arquivo próprio

terça-feira, 24 de março de 2009

Ondas nada comuns



Por Germano Xavier



O uso da esfera pública com a finalidade de formação de uma consciência coletiva (localidade), a democratização da comunicação e a promoção ao engajamento da comunidade em prol da defesa e da manutenção de sua particularidade social, possibilitando a geração de movimentos sociais que encontram no pleno direito ao exercício da cidadania a sua meta primordial, formando também “agentes políticos” saudáveis… Talvez sejam essas as três características mais desrespeitadas no ambiente de uma rádio com a concessão para ser comunitária. Em síntese, a maior parte das características e funcionalidades objetivas ligadas a qualquer rádio comunitária é desrespeitada e/ou desviada a partir do momento em que seu pensamento básico atrela-se, direta ou indiretamente, à mídia. Tal fato explica, de uma forma mais contundente, a desvalorização do caráter original das emissoras de rádio comunitárias. Perde-se assim o foco da racionalidade, abrindo espaço para a introdução de uma metodologia discrepante da que a origina. A defesa e a preocupação com o que é de ordem social e de interesse geral (maioria) da comunidade/localidade é reprimida a tal ponto que o cidadão é obrigado a aceitar posicionamentos que não condizem com a sua realidade, tornando-o alienado e reduzindo-o ao papel de mero consumidor de bens simbólicos. Há uma espécie de prática de uma “violência” simbólica por parte dessas estações transgressoras, um nuvem negra que sobrevoa a atmosfera cognitiva e intelectualizante de milhares de pessoas. Outro ponto a se destacar é a instrumentalização do meio comunicativo, nessa caso o rádio, por meio de figuras políticas ou partidos/legendas, com o desejo de angariar conquistas eleitorais. Uma apropriação indevida de um espaço destinado a outros objetivos, mas que serve de combustível para a máquina da corrupção. E o pior de tudo é saber que esses atos são, indubitavelmente, facilitados por administrações também fraudulentas. Muitos mitos são forjados através dessa prática ilícita. Desse modo, a comunidade acaba perdendo a vez e a voz, o direito à cidadania, à moral e à liberdade de expressão. Essa atitude, quando não aparece clara e inteiramente perceptível aos ouvidos do cidadão, surge camuflada, jamais perdendo o seu caráter degenerante. Não obstante, há a prática do que se convencionou chamar de “coronelismo radiofônico”, entre tantos outras artimanhas que são utilizadas. Aqui o patrão (geralmente um candidato político) arma uma rádio comunitária, difunde suas propostas e, depois de se sagrar vitorioso – ou não – “entrega” a emissora à população, manipulando interesses e vontades que deturpam os anseios da massa.


Signo Linguístico e Saussure



Por Germano Xavier



Com base nos conceitos do lingüista suíço Ferdinand de Saussure, o signo lingüístico deve ser definido como uma unidade composta por duas faces diversas: uma face conceitual e uma imagem acústica, que corresponderiam, respectivamente, a significado e significante. O signo “tucano”, por exemplo, é a unidade que une uma face do som “tucano” a uma esfera de pensamento – como, por exemplo, ave silvestre. Ainda de acordo com Saussure, o conceito e a imagem acústica mantêm vínculos de ordem psíquica, já que necessitam de regras pré-modeladas mentalmente para se estabelecerem como signo.

Saussure revela duas características como sendo as principais do signo lingüístico: a arbitrariedade e a linearidade. Para o estudioso, a combinação entre significante e significado é feita de forma arbitrária, imotivada, determinada por convenções e hábitos sociais, fora do poder do indivíduo de criá-lo ou modificá-lo. Sendo assim, não haveria nenhuma ligação natural entre a idéia de “pé” (significado), por exemplo, e a seqüência de sons p-é-s (significante). Saussure destaca como exceção as onomatopéias, que, em sua concepção, remetem direta e objetivamente aos elementos da realidade que evocam.

Para Saussure, o significante, enquanto natureza auditiva, deve ser disposto numa só dimensão de ordem temporal. Tal propriedade, denominada por ele de linearidade, opõe-se aos significantes visuais, já que estes podem explorar mais de uma dimensão no espaço, podendo ser apreendidos simultaneamente e de diferentes maneiras. A partir dessa organização em cadeia, segundo a qual os significantes se sucedem uns após os outros, é possível a estruturação de um sistema lingüístico.


Sobre a literatura



Por Germano Xavier



O linguista Roland Barthes, estudioso renomado da área das ciências que envolvem e/ou sofrem influência da palavra, defende que a literatura fundamenta-se a partir da ideia/conceito da prática da escrita, deixando de lado a noção de que a literatura é apenas um arcabouço onde se encaixam enormes listamentos de obras ou, ainda, algo ligado à esfera do comércio-ensino. Tomando como ponto de partida a práxis, a ação de escrever, o autor supervaloriza o “texto”; para ele, o “texto” simboliza o “tecido dos significados que constitui a obra” (Barthes, 2001). Já o extrapolar de representações que um texto pode abarcar não faz a cabeça do pesquisador, que acredita que o elemento basal da literatura está, somente e só, no corpo da escritura, no que indifere ao ordenado de palavras em conjunção, e não nas possíveis compreensões extratextuais ou mensagens que um material literário possa transmitir. Barthes ainda desloca a literatura das demais disciplinas, dando a ela um caráter libertário e emancipatório frente aos mais variados ramos de estudo. Ao mesmo tempo que segrega, Barthes faz da literatura um baú, capaz de zelar por vários saberes. E eis aqui o caractere que torna a literatura um “monumento” quando posta ao lado das demais disciplinas. Para o autor, a literatura “é a realidade, isto é, o próprio fulgor do real”, o que a faz ser e estar sempre em excesso e vantagem diante das outras. O ingrediente a ser analisado, no caso a literatura, é o objeto ou o conjunto de instrumentos que desbastam o irreal, o que é baba ou imprestável. A literatura é o real, ou o seu fragmento, ou o seu motor, ou a “realidade” do que é real. Para Barthes, um lugarejo onde se vive do todo, para o todo e como o todo. Barthes aponta a força de representação como sendo a segunda força da literatura, dizendo que a literatura representa o real para a humanidade através de suas capacidades. Mas o real não pode ser representado, ou seja, a possibilidade que se tem é demonstrá-lo. Há uma constância em se dizer que o real é representado por palavras, através do intermédio da história da literatura. Têm-se várias idéias para uma definição do real, dentre elas afirmá-lo como algo impossível, que não há uma coincidência entre o real e a linguagem, pois estão em planos dimensionais diferentes. Sendo que, o primeiro é pluridimensional, e o segundo unidimensional. O conflito acaba sendo gerado porque é nesse ponto (a união: real + linguagem) que “a literatura não quer, nunca quer render-se” (Barthes, 2001). Os homens se recusam a aceitar tal conclusão; a consequência disso é justamente a produção contínua e ávida da literatura. Para o autor, a literatura caracteriza-se como sendo realista e irrealista. Realista na medida em que está sempre em busca do real, e irrealista porque acredita na lucidez do “desejo do impossível”. Esse último conceito chama-se “função utópica”. Aproveitar tudo, absolutamente tudo. Para o linguista, a transformação , a aprendizagem, o usofruto, a “decência” do escritor-leitor, ou vice-versa, pode ser encontrada no universo de “teima” do banquete da língua, e só. Então, talheres à mesa…


Pequenos olhares sobre alguns poemas



Por Germano Xavier



Poema 1

RETIRA-SE DESDENHOSA DO POETA PARA HUM SOLDADO DE CUPIDO A TEMPO, QUE ELLE FAZIA O MESMO COM ANNICA.

Quita, como vos achais
com esta troca tão rica?
eu vos troco por Anica,
vós por Nico me deixais:
vos de mim não vos queixais,
eu, Quita, de vós me queixo,
e pondo a cousa em seu eixo,
a mim com razão me tem,
pois me deixais por ninguém,
e eu por Anica vos deixo.
Vós por um Dom Patarata
trocais um Doutor em Leis,
e eu troco, como sabeis,
uma por outra Mulata:
vós fostes comigo ingrata
com a grosseira ingratidão,
eu não fui ingrato não,
e quem troca odre por odre.
um deles há de ser podre,
e eu sou na troca odre são.
Eu com Anica querida
me remexo como posso,
vós co Patarata vosso
estareis bem remexida:
nesta desigual partida
leve o diabo o enganado,
porque eu acho no trocado,
que me vim a melhorar
mais na Moça por soldar,
que vós no Moço soldado.
Se bem vos não vai na troca
pela antiga benquerença,
eu sou de tão boa avença,
que farei logo a destroca:
porém se Amor vos provoca
a dar-me outros novos zelos,
hemos de lançar os pêlos
ao ar por seguridade,
e eu sei, que a vossa amizade
há de custar-me os cabelos.


Poema 2

EPITAFIO À MESMA BELLEZA SEPULTADA.

Vemos a luz (ó caminhante espera)
De todas, quantas brilham, mais pomposa,
Vemos a mais florida Primavera,
Vemos a madrugada mais formosa:
Vemos a gala da luzente esfera,
Vemos a flor das flores mais lustrosa
Em terra, em pó, em cinza reduzida:
Quem te teme, ou te estima, ó morte, olvida.

Para começo de conversa, é preciso salientar que o poeta Gregório de Matos tinha absurda e considerável ciência acerca do que produzia. É preciso uma boa dose de vivência para que um determinado escrito consiga elevar-se como obra e conquistar outras dimensões de significação e representatividade. Ele, o “Boca de brasa”, é um retrato fiel da idéia de que a vida imita a arte, e também o inverso. Gregório viveu, comeu e bebeu do seu tempo. Para Alfredo Bosi, o bardo “é mais do que uma figura e um autor porque retrata, sob muitos aspectos, e tipifica, em quase toda a sua obra, o meio e o tempo”. E quando voltamos o nosso olhar à retratação da figura feminil em sua obra, cuja autoria é ainda bastante polemizada, nada acontece de modo discrepante. Analisando os poemas supracitados, percebe-se claramente um posicionamento ideológico baseado em extremismos. De um lado, fica fácil identificar uma visão essencialmente preconceituosa perante a mulher negra. Diante da questão, Gregório não titubeia, e escreve com a inicial maiúscula o termo “Mulata”. O destinamento e a evidência de um racismo é por demais escancarado. O poema tem como enredo, se assim pode-se aferir, um troca-troca envolvendo duas mulheres e dois homens. As mulheres, aqui, são negras e vêem-se traduzidas à míseras mercadorias ou produtos de negociação. O poema primeiro se desenvolve, do início ao fim, numa atmosfera densa, marcada por uma tensão que envolve os paradigmas do “ter”, do “poder” e, mormente, da efemeridade das relações humanas. Comparado ao segundo poema, este totalmente encaminhado sobre um território ameno, livre de aturdimentos e tensões, fluido e mais contemplativo, uma vez que o seu destinatário é uma mulher de pele alva, portanto digna dos mais altos congraçamentos. O primeiro poema expõe uma linguagem mais coloquial, chegando a beirar a vulgaridade, aproximando-se de um erotismo encadeado por expressões e jogos de palavras por demais singulares. Para corroborar da idéia de aproximação do que é popular através do uso de uma linguagem diferenciada, Alfredo Bosi vai ainda dizer que “não menos interessante é o estudo da contribuição de Gregório de Matos para a aproximação entre a linguagem literária e a linguagem popular, pela maneira como introduziu em suas composições não só palavras até então proibidas ou vedadas ou mal aceitas como expressões de uso comum”. No segundo poema, dedicado a Dona Ângela, a comparação elogiosa concebe à personagem um caráter de gigantismo e inesgotável estima. Dona Ângela, mesmo morta, é possuidora de uma beleza quase inefável, indiscutível. Aqui, a dualidade temática Vida X Morte faz-se demasiado presente. Eis, pois, poemas comprimidos em antagonismos, dum poeta-marco do Barroco, que pouco soube fingir a arte do fingimento das relações humanas, das coisas e do mundo.

Agora leia os seguintes poemas, de Gregório de Matos e Cláudio Manuel da Costa, respectivamente:

Ao Braço do Mesmo Menino Jesus quando Appareceo

O todo sem a parte não é todo,
A parte sem o todo não é parte,
Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Não se diga, que é parte, sendo todo.
Em todo o Sacramento está Deus todo,
E todo assiste inteiro em qualquer parte,
E feito em partes todo em toda a parte,
Em qualquer parte sempre fica o todo.
O braço de Jesus não seja parte,
Pois que feito Jesus em partes todo,
Assiste cada parte em sua parte.
Não se sabendo parte deste todo,
Um braço, que lhe acharam, sendo parte,
Nos disse as partes todas deste todo

VI

Brandas ribeiras, quanto estou contente
De ver nos outra vez, se isto é verdade!
Quanto me alegra ouvir a suavidade,
Com que Fílis entoa a voz cadente!
Os rebanhos, o gado, o campo, a gente,
Tudo me está causando novidade:
Oh como é certo, que a cruel saudade
Faz tudo, do que foi, mui diferente!
Recebei (eu vos peco) um desgraçado,
Que andou té agora por incerto giro
Correndo sempre atrás do seu cuidado:
Este pranto, estes ais, com que respiro,
Podendo comover o vosso agrado,
Façam digno de vós o meu suspiro.

Fazendo um quadro comparativo entre os dois poemas:

Poema de Gregório de Matos

• Cultismo – o jogo intencional com palavras;
• Tentativa de reafirmação de um teocentrismo titubeante;
• O “chocar” em cada verso;
• Ambiente tenso, conflituoso;
• Construção imagética superestimada;
Poema de Cláudio Manoel da Costa
• A natureza como elemento primordial;
• Presença de elemento mitológico (fílis), com retorno aos ideais greco-romanos;
• Linguagem simples, sem rebuscamentos gratuitos;
• Relação de intimidade com a natureza, vista como fonte para a razão;

No poema árcade, o homem consegue, após consideráveis embates, encontrar-se. E é a natureza, o ambiente bucólico, o fator que ilumina o ser. Nela, sendo-a e estando inteiramente entregue a ela, o homem encontrar a necessária paz e a vida harmoniosa, pautada numa lida ponderada, racional, e sem aflições. Já no poema barroco, o humano confunde-se com a própria parte e o próprio todo conflituoso. O linguajar, o modo como a palavra e a imagem é confeccionada transforma-se em mais um entrave para a compreensão, impedindo o suave transcorrer da leitura por parte do leitor.


Notas sobre a leitura no mundo




Por Germano Xavier



A expansão avassaladora do Império Romano foi, entre outros fatores, um dos principais motivos para o desenvolvimento de uma cultura de leitura entre os indivíduos do mundo antigo e, posteriormente, em todas as épocas históricas vindouras. O Latim, língua que abarcou e agregou todas as “ferramentas” comunicativas e toda a produção de conhecimento da época, também representou uma forte arma para o progresso da prática da leitura naquela época. Todos queriam “beber” dessa fonte, pois era a partir dela que os indivíduos poderiam figurar em melhores condições sociais dentro do próprio contexto social em que viviam. Foi, também, com o advento da Reforma Protestante, formulada e praticada por nomes como Lutero e Calvino, que textos, antes considerados sagrados e extremamente sigilosos, vieram à tona, fato que acabou incentivando muitos leitores a desempenharem suas respectivas funções. Após este momento, a discussão sobre os relatos e passagens bíblicas começou a fazer parte do cotidiano das pessoas. Outro fato que ajudou a proliferação do hábito da leitura foi justamente a invenção da imprensa, em meados do século XV, pelo alemão Gutemberg, um dos maiores responsáveis pela popularização do objeto livro no mundo e, também, quem ajudou a lançar as premissas básicas e materiais para uma moderna e dinâmica economia baseada no conhecimento, assim como na disseminação da aprendizagem de proporção de massa. No Brasil, um pouco antes da promulgação do regime republicano, grande parte da população, principalmente a dos grandes centros urbanos, já tinham o conhecimento de publicações oficiais, como as vindas da Imprensa Régia e também por conta dos pasquins, folhetos de cunho revolucionário e crítico que circulavam livremente e/ou clandestinamente por diversos setores da sociedade. Pouco depois, a implantação de um sistema de ensino regular tornou-se no maior objeto para favorecimento da leitura em nosso país, fato bastante discutível nos dias de hoje. A partir de sua fundamentação, a escola passou a exercer função básica na construção de um país de leitores, o que, de fato, ainda é muito precário e de proporções diminutas se comparado a países do primeiro mundo. Claro, tudo isso antes da popularização da rede internacional de computadores: a internet. Daí para frente, é uma outra história.


quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Parada



Por Germano Xavier



para Maria Iraildes Pimenta


ressequidas venezianas de alma,
olhos pálidos como folhas de outono,
desmaiam os ciclopes reticentes
no escuro apenas.

ver o verdor pesaroso de não ver o verde
das relvas sem selvas, ter uma fronha
encobrindo o branco e o preto,
e por que agir insipidamente
a favor de uma vontade mórbida,
íris filtrada na dor, nesta humanidade doente?

se não enxerga os acimas,
teima a vista nos brilhos sem nome,
que são de lá os feitiços das medusas prementes.


* Imagem: Arquivo Próprio

sábado, 24 de janeiro de 2009

As Iraquaras


Por Germano Xavier



Em palavras, um olhar sobre um documentário da TVE

Iraquara não é só pedra, terra vermelha, grotões e falésias. É terra rica, de povo misturado com muitas histórias e causos para contar. Iraquara é a pamonheira que vende de casa em casa, no bocapil artesanal, seu produto de milho. É a cortina de rochas e a vegetação verde que recebeu seu primeiro habitante por volta de 12 mil anos atrás. É, literalmente, o coração da Chapada Diamantina.

É o incontável número de garimpos, que depois deram origem aos seus diversos povoados. É a famosa Estrada Real, caminho onde os boiadeiros, tropeiros e comerciantes cruzavam rotineiramente, que ia de Jacobina (norte) até a cidade de Rio de Contas (sul), passando por Iraquara. É o século XIX de tantos diamantes e ouro “interminável”.

Ah, quantas cidades maravilhosas em uma só! Quantas Iraquaras em uma Iraquara apenas! Lugar que é a Parnaíba, que em Tupi significa “local de muitas ilhas”, hoje Iraporanga (“Pote de mel”, em Tupi). Reza a lenda que a vila de Parnaíba, como era conhecida antigamente, ficava onde atualmente existe uma lagoa coberta por taboas, uma espécie de planta aquática. Descoberta por volta dos anos de 1755 ou 1760, quando os bandeirantes por lá estiveram – deixaram até um facão com a inscrição “Parnaíba” em sua lâmina – o principal povoado iraquarense também nasceu por acaso.

Certa feita, o povo saiu da vila antiga para a novena de Santo Antônio. Chegando lá, foram surpreendidos por uma chuva bastante forte que alagou todos os engenhos, casas, plantações de cana, chácaras. Tudo tinha virado lagoa. Assim, tiveram de ficar nas proximidades da igrejinha, que ficava mais afastada da parte afetada pela tempestade. Todos perderam tudo que tinham. Todavia, fizeram daquele episódio um recomeço em suas histórias e acabaram construindo tudo novamente.

Iraporanga que hoje é a morada do sanfoneiro Hugo Luna, que canta a magia do lugarejo nos versos:

“A vila de Parnaíba
Devolve a cada criatura
Um pouco de sua criança
Um mistério de alma pura

Sua tarde fria e quieta
Abriga mil borboletas...”

Iraquara é também a Iraporanga da senhora Vanderlina Vieira, ou simplesmente Dona Vanda. Mulher antiga que considera todo mundo parente, que quando vê uma pessoa de fora já chama para tomar um cafezinho e que diz: “O povo de São Paulo pergunta logo se eu sou da Bahia. E eu respondo que sim, com certeza. E da Parnaíba!”

Iraquara que é o Esconso, as lindas cachoeiras do Riacho do Mel – ah, inesquecível Cachoeira do Mel! -, terra propícia ao turismo de contemplação. Iraquara que é a Água de Rega (foi assim batizada por ter muitas terras irrigadas), duas vezes invadida pela Coluna Prestes, um agrupamento de cerca de 4 mil homens, liderados por Luís Carlos Prestes, que se deslocou por todo o Brasil manifestando-se contra o então presidente Arthur Bernardes – na Bahia, os integrantes da Coluna Prestes ficaram conhecidos como “Revoltosos”.

Terra minha que também é a terra de “seu” Lau (Claudiano de Souza), que até hoje mostra os buracos nas janelas, oriundos das balas atiradas pelos “revoltosos”. Terra de “Liozão” (Leopoldo Costa), contador de histórias e homem que diz já ter visto lobisomens e sombras estranhas dentro das grutas.

Iraquara de cozinha sui generis, do famoso godó de banana, do cortadinho de palma, da malamba. Iraquara da cachaça orgânica, do Pedro José de Araújo, mais conhecido como “Dr. Xarope”, que há 30 anos, e no mesmo local, vende suas folhas e raízes especiais para todo tipo de moléstia. Aí vai a lista: jatobá, catuaba, pau de resposta, nó de cachorro, jatobá roxo, Dom Bernardo, carumbinha, guabiraba, capina seca, canhanhinha, cipó-cabeludo, quebra-facão, pistola-de-quati, espinheira santa, jarrinha...

E quem por lá passa, recebe a advertência:

“O homem quando envelhece
O olho enverdece
A barriga cresce
O reumatismo aparece
A câimbra desce
A perna amolece
A barba embranquece
A vista escurece
A velha oferece
E o velho agradece”

Ah, Iraquara feita de magia! Que é o artesanato feito na pedra ardósia, na palha seca, na madeira. Iraquara do tradicional Pau-de-Fita, dos Ternos de Reis - manifestação popular que presta homenagem aos Reis Magos. Que adentram as casas em cantoria bonita:

“Oi de casa!
Oi de fora!
Oi de casa!
Oi de fora!
Maria, vai ver quem é!
Maria, vai ver quem é!
Somos cantadores de Reis.
Somos cantadores de Reis.
Quem mandou foi São José!
Quem mandou foi São José!”

Aí o dono da casa oferece muita bebida e comida e a festança não tem hora para terminar...

Iraquara que fez o compositor Carlos Pita escrever os seguintes versos:

“Ir pra Iraquara e querer ficar
Deixar o coração solto no vento
Montanhas, grutas, sentimentos
E o pensamento solto no ar

Flor de Água de Rega, Toca de Mel, terra vermelha
Lapa Doce, gruta de prazer
Viu, passarinho! Viu...
Viu, meu amor! Viu...

Passar na Parnaíba e escutar
As histórias que Liozão tem pra contar
De uma terra que um dia
Já foi mar.”

Sem mais palavras...


* Imagem: Arquivo pessoal.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Defectivo impessoal


Por Germano Xavier



Um idílico para um Tempo novo.



Eu, Ira, quaro.
Tu, Ira, quaras?
Ele, Ira, quara?
Nós, Ira, quaramo-nos?
Vós, Ira, até onde quarais?
Eles quararão, Ira?


* Imagem: Arquivo pessoal.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Da força de um canto



Por Germano Xavier



canta, canta, canta... e s'encanta
pois cantar, grande lugar
d'eloquência é sopro
da alma, efervescência
quando se tem esperança
tanta

quem não canta, alegria espanta
e vive eterno a conhecer o escuro
não sei se posso, meu canto impuro
é dança de copas: pobre planta

e é semente, que de mim germina
doença que me corrói, maltrata,
um sufoco escuso que não termina

que reluz como ouro, e não prata
o encanto é arte madura;
espelho de mágica visão
e cura


 Imagem retirada do Google.

Rafael e o mundo da cal



Por Germano Xavier



Baseado na história de Rafael Souza do Nascimento.


Rafael acordou feliz hoje, apesar da esteira nada confortável onde dorme todo dia. Do mesmo modo que está feliz, Rafael não suspeita do seu futuro nas próximas horas. Sempre foi assim, e para ele quase nada poderia soar como uma novidade. Só soube que não tinha pai nem mãe um dia desses, quando o dono da olaria o chamou num cantinho:

- Rafael, preciso lhe dizer uma coisa.
- Ué, então diz.
- É que ninguém nunca viu os seus pais.
- Como assim?
- Ninguém os conhece.
- Quer dizer que você não é o meu pai, que minha mãe não é a minha mãe?
- Não, Rafael, a Andira e eu não somos seus pais verdadeiros. Nós apenas criamos você...

Mas Rafael acordou feliz hoje, lembremos disso. E logo que amanheceu, ainda com pedaços de noite no céu, ele saiu de casa em direção à velha olaria. Rafael tem doze anos de idade e trabalha lá há mais de cinco. Já é bem experiente na arte de queimar pedra e fabricar a cal.

Mas como hoje é uma terça-feira, Rafael ficou com a tarefa de partir ao meio as grandes pedras que depois irão ser calcinadas no forno. É um trabalho muito perigoso, mas ele já está acostumado. Aprendeu tudo com seu pai, que não é o seu pai propriamente dito, e também com o Jorge, que um dia quase perdeu a visão porque uma lasca de pedra foi parar bem em seu olho direito. Até hoje sente dores e um inchaço crônico, mas ele sempre diz que está tudo bem.

Em Iraquara a fabricação de cal virgem e hidratada é uma tradição. Pela facilidade com que a rocha apropriada para este tipo de produção é encontrada no solo, tal labor é o ganha-pão de inúmeras famílias em todo o município. Mas é um ofício que, por diversos fatores, entre eles a falta de informação e de condições mínimas de segurança, rotineiramente deixa seqüelas eternas em quem mexe com o produto.

Andando pelas ruas da cidade, não é difícil se deparar com pessoas mutiladas de variadas formas, umas sem um dos braços, outras sem orelhas, com cicatrizes profundas... Isso quando não vêm a falecer no local. O risco é enorme porque há a manipulação da pólvora que, uma vez introduzida num orifício feito no centro da pedra, deve ser comprimida manualmente até conseguir ficar uma “massa” bem unida e uniforme. E é justamente nesse instante onde tudo pode acontecer.

Rafael está usando um short, um chinelo feito com a carcaça de um velho pneu e uma blusa branca bem surrada. Nunca usou um colete, um capacete de segurança, ou qualquer outro objeto para lhe proteger o corpo. Rafael simplesmente é o espelho dos outros que trabalham na olaria. Rafael está feliz, tem doze anos de idade e vai começar a estocar a pólvora na pedra.

Ele sabe que deve ser paciente e que deve bater o material bem lentamente, até tudo ficar bem juntinho. Só assim é que ele poderá fazer a ligação e, de longe, detonar todo o bloco rochoso.

Rafael começa a socar a pólvora.

O menino está curvado, com os joelhos genuflexionados tocando o barro da terra. Os outros operários estão nos seus afazeres, jogando as pedras no calor das lenhas. O cenário é rústico e silencioso. Ouve-se apenas o crepitar da madeira no fogo candente e alguns poucos balbucios.

Cerca de cinco minutos após começar a condensar a matéria inflamável, Rafael sente que está próximo de terminar. Restam poucas batidas. Da chaminé da olaria brota uma fumaça branca que colore o céu. Uma marmita já bem fria com carne moída e macarrão o espera em cima de um pequeno tamborete.

Rafael iça o martelo e a pinça para uma de suas derradeiras pancadas na pedra, agora já num misto de cuidado e temor quase totalmente agachado. É um arremesso suave, sutil, porém suficiente para provocar uma faísca dentro do orifício. Rafael sabe que não há o que fazer nessa hora, somente esperar.

Os outros acordam de suas quenturas ao ouvir o pipoco. O barulho chega a ser ensurdecedor quando escutado de perto.

Bummmm.

O céu se cobre de estilhaços. A enorme rocha está partida, fragmentada, remoída, como todos queriam. Rafael está caído no chão e muito sangue o rodeia. Percebe-se, mesmo ao longe, que falta alguma coisa no corpo de Rafael. E o tempo agora é tudo.

Rafael está sobre um colchão macio no leito do hospital da cidade. Rafael não vai dormir feliz.


* Imagem: Arquivo pessoal.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Meu pai, dono da fábrica de sorrisos



Por Germano Xavier



“De tudo, ficaram três coisas: a certeza de que ele estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar. Fazer da interrupção um caminho novo. Fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro.”(Fernando Sabino)

“A interpretação somos nós que fazemos”, a boca rosada em febre dizendo. A pele branca coberta de pêlos coloridos em preto e branco. Foi dormir cedo. Ponderou o dia e o pôs na balança. O fiel devia estar compensado pelo peso das horas. Havia cadernetas espalhadas por toda a casa, principalmente sobre a mesa do consultório. Como havia a perene preocupação acerca dos fechamentos e dos ferrolhos. Gostava de tudo apertado, urdido, colhido, singrado, garrido. Não de deslizes. Um homem feito de descontinuidades e favores. Para ele, sempre existia o momento de reavaliar prioridades, mesmo que a vontade falasse mais alto algumas vezes, teimando. Era noite, ele tinha anos e estava de aniversário. O filho mais novo pensou a noite inteira em “qual presente?”. Procurou, procurou, procurou. No meio da procura, lembrou do tempo antigo, tempo antigo e eterno. Quis combinar algo com o tempo antigo, de quando pedia a benção para dormir lá pelas nove ou dez horas da noite. Era gostoso apertar a mão do pai. “Mão de quem ama”, lembrou. Na cabeça, aquele escarcéu. Queria dar tudo de presente, entregar o mundo inteiro, a alegria toda do mundo, a vida qualquer coisa assim de verdadeiro. “Filho precisa ser”, pensou. E lembrou de quando furava a parede da garagem para construir a rede da brincadeira de bola no ar. O irmão era maior e, por vezes, vivia em outro mundo. O mais novo fazia castelo modelando tijolinhos de barro molhado com caixinhas de fósforo por detrás da casa, quintal de mangueira que já não existe mais. Ele aprendendo a caminhar sozinho, amparado. O filho subia o pé e era como subir ao sonho. Nas costas, sempre a figura de proteção dele, dizendo “cuidado” sem privar da liberdade certa. Era amor e não era outra coisa. Emudeceu por um instante. Pensou “eu não seria nada se não fosse meu pai”. Ou quase nada, porque tinha a mãe também. Depois lembrou dele com aquela velha faquinha insubstituível modelando com mãos de deus a futura prótese, perto do jardim, raspando raspando raspando, construindo sorrisos de gente, colocando sorrisos na gentes, restaurando sorrisos perdidos, de gentes também perdidas, no meio das rosas e das plantinhas verdes da mãe. Era puro encanto. Aquelas sobrancelhas arqueadas, quase sem, diminutas, a calvície que sempre foi, o olho manso de quem tem o coração bom e a alma limpa, modelando com o foguinho de álcool, prudente, fingindo uma sisudez que era mais o liame de toda uma vida de sacrifícios para agora estar ali, todo de branco, direto do Pernambuco mais seco, mais sofrido e azedo, ostentando uma missão de honra e honestidade. “Meu pai é o maior homem do mundo”, o filho matutou. E olhava-o de longe, de perto, o tudo em nós que havia, o cheiro ocre dos produtos com nomes catastróficos misturado a alicates e brocas, um ar blasé atmosférico no fim da tarde, quase barroco, agudo, hora de fechar o engenho e tomar o banho merecido. Cirurgião Dentista de ofício, o velho era mesmo sábio em amar. Amava sempre quando ligava o chuveiro quente para o filho menor, dizendo mais uma vez “cuidado, use o chinelo”, para no outro dia se poder ir ao mercado fazer a feira e organizar produto por produto na hora da volta, rótulos bem visíveis, tudo muito organizado, tudo muito. Era mesmo um pai em excesso. Um pai que não conseguia ser pouco. Pai sem plágio. Amava no dia em que o escorpião picou a noite do pé branco sobre a Iraquara de lembranças. Ele dormindo e o filho mais novo pensando no presente do pai. Queria ser o autor do texto e resolveu e foi. Subverteu a ordem lógica das coisas e seguiu, pertinente, sabedor das hierarquias. Lugar de rei é lugar armado de uma beleza moral torcida em flor. O filho, crescendo e oblíquo, fingiu a discrição e quis a vulgaridade regrada a palavras. Pensou “não sei fazer outra coisa senão escrever”, e pensou mais um pouco. Não precisou de venenos, licores, cigarros. Foi o exemplo e espelho. “A gente aprende que, como o espinho, a pétala também fere”, com os seus botões, ensimesmado. O pai ensinou que a vida é vontade, que se precisa ir com garra, sem atropelar ninguém, e defendeu defendeu defendeu a cria. Não sabia ele que o filho já pedira muito aos céus a felicidade e a vida longa, que o filho já chorou muitas vezes com medo de qualquer coisa de mal, que o filho jurou ser coisa boa no mundo, orgulhar um coração que cabe um universo inteiro. E começou, vendo seu único jeito de presentear, “painho, não tenho dinheiro, não tenho como comprar um presente grande e volumoso, não tenho muita coisa e o pouco que tenho devo ao senhor. Agora, painho, tenho estas palavras que também não existiriam se não fosse tua dedicação e esforço. Hoje não quero literatura, quero apenas a verdade, palavra de filho, 23 anos de filho teu, painho. Hoje, teus 63 anos de idade são, para mim, motivo de orgulho e respeito. Sou grato por tudo que o senhor me proporcionou durante toda essa minha vida. Estou chorando e escrevendo porque eu preciso dizer o que sinto. Hoje, estudando e morando numa cidade que não é a que nasci, longe do convívio e do aprendizado diário há bem sete ou oito anos, sem saber dos dias que o senhor vive, sinto uma saudade e uma dor no peito que não tem tamanho. Nenhuma palavra seria tão poderosa a ponto de conseguir suprir a potência do teu nome em minha mente. Carlos é e sempre será o nome do meu melhor professor, do mestre que ensinou os caminhos primordiais, do homem que me deu uma escola, uma roupa para vestir, um prato de comida, nome do homem que me ensinou os valores mais importantes, nome do pai bondoso, do profissional sem igual, nome do homem da foto que carrego em minha carteira, nome do homem que passou enormes dificuldades para conquistar o que conquistou, do homem que dedicou uma vida inteira em prol da felicidade de uma família. Vou terminar por aqui, sabendo que nunca findará o que sinto, dizendo que teu filho Germano carregará o senhor no fundo do coração por todo o sempre”.


Imagem: Arquivo pessoal.